“I believe every human has a finite number of heartbeats. I don’t intend to waste any of mine” N. Amstrong

domingo, 28 de novembro de 2010

Delícias literárias

"- Sr. Vogel, se não estiver contente com o rumo das coisas-disse Isaac-, só tem de fazer uma coisa muito simples:juntar os dois pés, concentrar-se e dar um pequeno pulo na vertical. Quando os seus pés tocarem o chão outra vez, a realidade do chão, quando deixarem esse momento celeste que é o salto, quando tocarem o chão, dizia eu, provocará um pequeno tremor que abalará a direcção do universo. Se ia em determinado sentido, sentido que, por certo, não lhe agrada, basta pular para ver mudar o rumo. Mas porque o tremor é muito pequeno, os efeitos não se notam de imediato, no entanto, se pudesse olhar para o futuro, veria como foi diferente daquele futuro em que não pulou. A vida é feita destes saltinhos."
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"- Vê-se logo que não percebe nada de destinos e coisas dessas. Já reparou que quando chama um gato (lembra-se do Luftwaffe, Sr. Vogel?), raramente ele corre para si em linha recta, mas faz uma parábola, uma curva? Os gatos sabem muito bem como atingir aquilo que desejam, são predadores exactos, eficazes, e fazem-no em arco, descrevem curvas no seu andar. É assim o nosso destino, fazemos curvas e parábolas para que ele se cumpra na perfeição. O redondo é a distância mais curta entre dois pontos. É preciso paciência (que é o nosso sentimento mais esférico)."
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Delicio-me com estas ideias de Afonso Cruz em a A Boneca de Kokoschka.
Adoro um livro assim. Cada frase faz-me sorrir, como se estivesse a saborear uma guloseima.

  

1 comentário:

  1. Afonso Cruz que, para além do prazer de ler, é um prazer ouvir falar! :D

    R.

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